terça-feira, outubro 03, 2006

EM ACALENTO


Se turva é a fonte de teus olhos mareados,
E o ardor, então, negritude perene,
Fulge impávida tua bela figura,
Musa fugidia, derradeira e plena.

Se a floresta é prenhe de naturais dádivas,
Sede, mulher, etérea pluma insone,
A ponte mínima à superar abismos.
Purgue, mulher, os seminais de teu imortal ciúme.

Senão, cumpre a dor o lugar da morte e da vida,
E a morte é pouca em tal vaticínio, diante do negrume
De tão sórdida pena, calcinando as intenções,
Qual pálida erva em chão de betume.

Persistente viandante sigo em busca,
Nesta senda do amor fundo que é vergasta,
Quão maior e verdadeiro se acerca,
Desenovelando a dor que ao corpo custa.

Oh, musa intensa! Com teu brilho de Acaçás,
Cravas no meu intimo a adaga triste quando esfumas
Tua solerte leveza, duração matinal da bruma.

Quando a alegria pálida se desfaz, o infame aperto,
Quase sempre, ao peito trava.
Oh, musa intensa! Meu amor por ti como bálsamo,
Queria à curar teus queixumes, em mim curar a vida.

Farol em teu olhar, guiar meu rumo.
Um sentir fecundo transposto em lume.
Quedar-me em teu colo, em acalento, na paz de um lago,
Como em sonho, acompanhando sem pensar o perfeito plano,
A eternidade intocada de um momento.

2 comentários:

Ricardo Sant' anna Reis disse...

"... a eternidade intocada de um momento"
É uma das frases poéticas mais lindas que já li. E olha que leio muito, muito!
Seu poema é belíssimo. Você consegue ser incisivo e contundente, sem perder o lirismo, a poeticidade. Parabéns! Oldney

Ricardo Sant' anna Reis disse...

ora , ora temos um parnasiano por aqui!!!
vc escreve bem
bjuss Dalila Balleikian