A Ferreira Gullar
A casa é presença
chão com falhas que esconde
o cisco de ovo não varrido.
A casa recende à café da manhã
e a outros cheiros de um dia
começando, misturado
aos ficados da noite.
A casa é o trabalho dos anos
a oclusão de cantos
a ruminação dos insetos.
A casa é o vento da tarde.
É a espera pela chuva, para o viver do telhado.
A casa é a saudade. É o beiral de abrigar ninhos
algaravia das andorinhas. Amor de pai/prontidão
de filho, promessas da eternidade.
A casa é vinho do porto, acalentando a noite fria.
É noite de amor lúbrico. A casa é choro de criança.
Lugar de morte e vigília.
A casa é a casa da fazenda, avistando da varanda
os pastos no vale umbrífero, lá no longe da memória.
A casa é útero ubérrimo à parir aconchegos
e a preguiça doce de ser.
domingo, março 04, 2007
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3 comentários:
Ricardo, belíssimo poema! Parabéns! Ele nos transporta a odores, sabores, saberes e lembranças.Adorei!
Luiza Moreira
Adorei ! Belíssimo.
Admirável e saboroso poema, Ricardo!
A casa é tudo... sendo assim, o símbolo do "EU"...
Parabéns, pela sensibilidade!
Abraços,
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