quarta-feira, março 07, 2007

A ULTIMA VEZ EM QUE FALO SOBRE A LUA


“Do luar, acho que já não
há mais nada a dizer”.

Gilberto Gil




Porque pode tanto, a lua, medievo satélite
Do eterno espanto, todo engano ainda,
Se já lhes sabemos os segredos,
Debelamos nossas ilusões, palmilhamos o vazião
De seu corpo celeste e cinza, medindo-lhe o tamanho
E o tamanho de nossos medos, que nas sombras
De tua luz, aprendemos a dominar.
O que mais nos ensina a lua, que as áridas
E entranhadas pedras do João Cabral,
Não nos puderam ensinar?
Se o homem, profanador por princípio, já conspurcou
O teu chão arenoso, Oh, lua, explorou precipícios,
Recolheu teus rochedos, fincou-lhe a bandeira imperialista,
Imitou teus cenários na desolação dos desertos
Geopolíticos e interiores, porque ainda fascinas?
Porque há, ainda, os que sob luz vermelha
Do teu luar eclipsado, poluído, teimam em se apaixonar?
Ou será que mentimos, os corações amantes,
Que Já para mais nada, acendem-se (tudo se esquece),
Nestes tempos de simulacro existencial.
O que dirá, se atinar para que se faça lua, ou reine
O profundo breu. O negrume intenso do nada,
De nada que oriente o eu-poético, quando o amor
De agora, só vale, prosaico, pelo que se
Recompense em sonida espécie.
A lua, já não nos ensina nada.
Mas, de lá, da solidão de seu limbo,
Nua e crua lua, um dia, o cosmonauta russo
Iuri Gagarin, estancou a Guerra fria, e falou:
“A terra, quando vista de cima, azula-se,
E, como anil, ela fica”. E era poesia, não era chiste.
Sobre a tal lua, planetóide passivo, o qual não se sabe ver,
São desde os primórdios, os mesmos sentires.
Hoje, por difícil o signo dos humanos momentos,
O amor-sentimento (como a pedra, como o sertão,
Como a verdade) não se explica, não serve mais
Para nada, vivendo na contramão. Apenas sei que ele
(como a lua) existe, e ainda alumia o viver.

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