domingo, setembro 17, 2006

DA VIDA DAS COISAS

À sombra da noite: Mimetismo.
Perdem, os objetos, as suas formas seculares
e o sentido.

Perduram diáfanos,
fantasmagorias,
simulacros em desacordo estético,
sem simetria e culpa.

São pequenos vínculos,
oratórios pagãos
em densa conversação,
como carpideiras
na madrugada.

As cadeiras se revelaram,
à muito, lânguidas senhoras inglesas,
estruturas descarnadas de assento e pausa.

As mesas, instauradoras, conciliares,
são reptos de fausto e acórdão de milênios.

Os sofás, pedantemente alheios,
em pompa de estofado principal,
são tutores de furtivos segredos
e sorrisos reveladores.

Nas camas, a alcova e o destino final.
Campas pilulares e treino mortuário.
Territorial da lascívia, prazer e enternecimento.

De utensílios do dia, quedam-se entidades
de um sonho noturno e veraz.

Um raio de lua que ilumine o umbral da casa,
desvela o sentido tomado da vida e da morte,
na vida secreta das coisas.

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