Quando o adensar da noite nos convocar,
saídos estaremos de todos os cantos do dia.
Iremos em procissão, romeiros submergidos,
atores de vaudeville, atuando nos pequenos atos
da pequena cena sórdida, ratos, bebedores
contumazes, rábulas das causas perdidas,
tristes poetas da incomunicabilidade,
pardos profetas do fim do mundo,
parvos senhores do relento,
cabonarios derrotados,
prostitutas devotas,
ao abrigo de bares turvos.
Quando o adensar da noite
nos trouxer a lua, e esta, sobre nós
lançar uma luz muito fria,
a bela lagoa, então, mais se adornará
de brilhos, reflexos de pirilampos
e de estrelas, e então, teremos a
riqueza sem fim de uma noite comovente.
A cachaça aquecendo lembranças
e afastando o medo. Por hino, uma
musica qualquer de animar/chacoalhar os ossos
(não uma destas musicas de corno).
Seguiremos, tropeiros, o rastro da fome
e da sede, no chão tornado púrpura
pela luz da lua cheia. A dor ardendo
no olhar fixado num ponto de fuga,
a perspectiva dispersa no ar encorpado
pela penumbra da maresia.
Juntos, clouchards terminais,
marcharemos sem glamour e sem quartel,
até a inviabilidade triunfar sobre o cinismo.
Um comentário:
[...] cachaça aquecendo
Lembranças e afastando o medo.
A dor que arde no olhar
fixado num ponto de fuga [...]
Lindo, simplesmente lindo! Obrigada!
Beijos Camila (Caca)
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