sábado, outubro 07, 2006

GAZAL DE APRENDIZ

Quisera ser como queres,
Um ser perfeito e feliz.
Iria, tão pleno de haveres,
Movido por força motriz.

Cinético, em tais projetos,
A me perder, por um triz.
Fincando raízes por nada.
Jamais esculápio, eterno petiz.

Mas, hoje sei, poeta sou convicto.
E bem mais do que se prediz:
- O ente perdido no mundo,
Seguindo, por tudo, infeliz.

Dirte-ei, neste gazal quebrado,
Ou é a espectral sombra que me diz,
Corrigindo este meu vaticínio,
Pois, tu és minha musa e sorris.

Faz-me ledo alumbrar o lirismo,
Neste oficio de aprendiz.
Pode-se tudo, ou, se então, nada posso.
Valeu ter tentado as coisas que eu fiz.

Baldadas mil e uma verdades,
Ao íntimo, algo na poesia me diz:
- Que só tem apego à plena vida,
Quem continuum reinventa o mundo,
Quem, vagando, da terra ao limbo,
Vai muito alem de Cadiz.

Um comentário:

Ricardo Sant' anna Reis disse...

Olá Ricardo,
Às vezes ocorre-me ler algum poema, ouvir alguma música, ver uma pintura, uma escultura, e pensar, invejoso: gostaria de ter sido o autor desta obra. Bem, penso que esse tipo de inveja não é de todo má, pois impulsiona-me ao aprimoramento da minha arte, e bendiz a obra, objeto de meu deslumbre. Ocorreu com o teu "Gazal de Aprendiz". Explêndido! Não há palavras, em meu vocabulário, capazes de expressar o quanto gostei. Um forte abraço. Oldney