quarta-feira, janeiro 24, 2007

NINFA EM SONO NA RELVA

A Anelise Tupinambá

Dedico-me a observá-la
Em seu plácido enlevo de sono
Cuidado em madrigal levedura.

Seu corpo entregue, lânguido
Em negra gaze, envolvida
E, como na relva, disposta
Uma éterea dama, de serena ventura.
De tez tão clara, e, ainda mais
Assim, adormecida.

Vê-la entregue à navegação
Dos sonhos, é vislumbrar
Num só instante mágico
No agora, o que, por meu desejo
Houvera sido, ausente as neves
Da nossa mutua incongruência.

Destarte, mesmo o acaso
De alguns suaves e ternos beijos
Longe das luzes de qualquer ciência
Vê-la assim menina bela
Como boneca de louça
Entregue ao seu próprio levitar
Nem mínima ruga na fronte alva
Que lhe turve o sono fundo
Devolve-me a crença e a plenitude d´alma
Sem que Deus nenhum me ouça
E, faz-me ledo entender o porquê
Simulo tanto, o porquê de tanto medo
E porque tanto, que a mim, eu minto
E de pronto, porque tanto te amo
Ao observá-la, velando
O seu doce adormecer
E, em que pese o que mais sinto
Ninfa tormentosa do oceano
Creio que passo a compreender
O desencanto à que tornamos.

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