quarta-feira, janeiro 24, 2007

ILUSIONISMO

Tantos caminhos são artifícios
para uma impossível chegada
que vale palmilhar a lembrança
rota de fuga pelo cimo dos edifícios
um caminhar pretérito, viver nos ofícios
de um pretenso saber de mistérios.

Para a arte do escapismo
não caberão latitudes
que não sejam as marcadas no peito
na pele profanada e rude, tatuagens
cicatrizes da boçalidade e as beatitudes
beijos e, talvez, o disfarce, talvez, o absinto.

Não sei mais dizer o que sinto.
Prestigitador. Sumir no vapor da tabacaria
num sortilégio brilhante, nas baforadas, nos rolos
de fumaça, na avenida febril, inebriante
plena selva de faces tortas. Sou infeliz e minto.

Na buzina, o trinado do pássaro metálico, mutante.
Eu devia a ti, um mergulho na vida, na relva
na memória das trevas, no passado de chumbo
o presente irrelevante, irrevelado.

Não é só pelas plumas leves
escuras ou claras, que se conhece um pássaro.
Sabe-o no voar, e também, pelo trinado.
E a vida, se vai raptando a sorte
na esperança de distrair a morte.

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