terça-feira, março 27, 2007

POEMA TÉDIO


A minha poesia não tem cor, branca como eu
que é, exangue. Melhor mata-la com um tiro
de misericórdia, que vê-la perder-se num
poço sem fundo, procurando o senso médio.
A poesia que farei, daqui por diante,
não revelará, profundo, como o Chico Buarque,
o ente lírico de todas as mulheres do mundo.
Também não buscará rimar amor e dor.
Que asco! Deixará em paz a flor e o vernáculo.
Fartas doses de um tédio,
viscoso e inebriante,
não mais servirá à leitores condescendentes.
Anseio pela noite negra, sem cor.
Ao blackisbeautifful do mangue beat,
quero a cor inexistente da tarde,
o lapso da memnesis ardente.
Drummondianamente, as pedras no caminho
quero ver, para na retina, às reter e evitar o tropeço.
Quero a paz dos cemitérios e a dos sobreviventes.
Um poema roto, para o fim do planeta.
Nenhum para o seu recomeço.
Ai! Já me cansei de mistérios. Não quero mais
o cardo tema, senão o coração rubro pulsante,
traspassado por medieval lança,
ficando expostas as coronárias azuis.
Sem cateterismos literários,
não quero submergir na lambança
das emoções comuns, e emergir
ao soro de veias abertas na ácida madrugada.
O meu poema, que siga-me, à revolver
o solo com as mãos, a sentir o cheiro
úmido da terra, tendo a morte por espectro amigo.
Siga-me à perseguir, como poeta, a calma,
pois, já não consigo coisas,
alem da petulância de um oceano irredento,
e nem surpresas, alem do meu preciso plano,
de plantar Caju e Lima da Pérsia,
ou belas arvores florais num terreno
da Região dos Lagos, para que me ajudem
a colorir o cenário, enquanto os astronautas
dominam as estrelas do céu.

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