O trem de ferro, que menino,
do Rio de Janeiro me levava,
rompia ventos com uma impaciência
que, ao fim da jornada antecipava.
Café-com-pão, piiuuiiiiiiii.
Apenas, eu ia absorto e inteiro.
O maquinista, na curva apitando.
Eu só imaginava, pois, que não existia (não se via)
nenhum maquinista, nem curva.
Havia somente o dia se dissolvendo, ligeiro.
Eu, olhando pela janela,
engolia com o vento,
o momento passageiro.
Não dava contas, na viagem,
dos contornos da serra mineira
(que recupero na lembrança)
disperso que estava,
na sacolejante monotonia da paisagem.
Súbito, como no sonho d’Alice,
o olhar se fixava na casa pobre, de taipa,
que se via no meio da planície verde.
A casa, já entrada no escuro da noite,
pela lenha que ardia no fogão,
mágica, se iluminava.
Tinha um olhar conspícuo (a casa),
um olhar de eternidade,
e vigiava o trem de ferro
em que também viajavam
as minhas conjecturas de criança, inócuas, inócuas.
E o trem, já na lonjura, com a pressa da chegada,
ainda, na curva, apitava.
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