segunda-feira, janeiro 29, 2007

SOB A LUZ DA LUA FRIA


Combinam-se os elementos
na alquimia de um amor sem igual
e que se faz intenso e pleno
sob a luz da lua fria
como a essência de um perfume
liga primordial.
O fogo da luz fria, vai crepitando
derramando-se, como semem
pelas ancas abissais, falésias
precipitação no ar em vôos
ascenssores pelos litorais.
A musica atonal que a todos
enleva, exercícios de sedução.
O filtro do amor que lança
os entes, ao desespero do sexo
em um torpor dolente.
Os frutos deste amor
porque só aromas, ninguém
os come, e se não são do mar
ou da terra, ficam caídos
pelos cantos na areia seca
do deserto, ao alcance
da sede e da fome.
E são aquosos, já mordidos
liquefeitos como os rios
que levam as almas
à promissão, à explosão
de paixão e de cardumes.
Os peixes jogam o claro/escuro.
Sereias margeiam mentes, e são
as fantasias de um romance épico
que é mais que a vida, que é mais
que o mar eterna calma em propulsão.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

ILUSIONISMO

Tantos caminhos são artifícios
para uma impossível chegada
que vale palmilhar a lembrança
rota de fuga pelo cimo dos edifícios
um caminhar pretérito, viver nos ofícios
de um pretenso saber de mistérios.

Para a arte do escapismo
não caberão latitudes
que não sejam as marcadas no peito
na pele profanada e rude, tatuagens
cicatrizes da boçalidade e as beatitudes
beijos e, talvez, o disfarce, talvez, o absinto.

Não sei mais dizer o que sinto.
Prestigitador. Sumir no vapor da tabacaria
num sortilégio brilhante, nas baforadas, nos rolos
de fumaça, na avenida febril, inebriante
plena selva de faces tortas. Sou infeliz e minto.

Na buzina, o trinado do pássaro metálico, mutante.
Eu devia a ti, um mergulho na vida, na relva
na memória das trevas, no passado de chumbo
o presente irrelevante, irrevelado.

Não é só pelas plumas leves
escuras ou claras, que se conhece um pássaro.
Sabe-o no voar, e também, pelo trinado.
E a vida, se vai raptando a sorte
na esperança de distrair a morte.

NINFA EM SONO NA RELVA

A Anelise Tupinambá

Dedico-me a observá-la
Em seu plácido enlevo de sono
Cuidado em madrigal levedura.

Seu corpo entregue, lânguido
Em negra gaze, envolvida
E, como na relva, disposta
Uma éterea dama, de serena ventura.
De tez tão clara, e, ainda mais
Assim, adormecida.

Vê-la entregue à navegação
Dos sonhos, é vislumbrar
Num só instante mágico
No agora, o que, por meu desejo
Houvera sido, ausente as neves
Da nossa mutua incongruência.

Destarte, mesmo o acaso
De alguns suaves e ternos beijos
Longe das luzes de qualquer ciência
Vê-la assim menina bela
Como boneca de louça
Entregue ao seu próprio levitar
Nem mínima ruga na fronte alva
Que lhe turve o sono fundo
Devolve-me a crença e a plenitude d´alma
Sem que Deus nenhum me ouça
E, faz-me ledo entender o porquê
Simulo tanto, o porquê de tanto medo
E porque tanto, que a mim, eu minto
E de pronto, porque tanto te amo
Ao observá-la, velando
O seu doce adormecer
E, em que pese o que mais sinto
Ninfa tormentosa do oceano
Creio que passo a compreender
O desencanto à que tornamos.

UNIVERSO OCULTO

Teu beijo escasso
mostava os dentes
enquanto teu verso curto
deixava entrever estrelinhas
nas entrelinhas.

domingo, janeiro 14, 2007

AO SUL DA POESIA


A Claudia Gonçalves

Sonhei, com um virtual encontro, onde vía-te sobre o Guaíba,
flanando, melenas soltas em livre augúrio,
e a lira, pronta à qualquer encanto.

Eu te seguia, poeta-musa, desde o Rio de Janeiro.
Deixei-me também ir ao vento, que alisa a serra e as vargens,
e ao litoral, que não há como cá.
Estas já foram às terras da grande nação Tupinambá,
outrora, antes de Rousseau e de seu mito do bon-sauvage.

No delírio, ao vento leve, Heracles, eu ia ao teu encalço,
como no resgate de Alceste,
e do Hades, planura primordial eu fazia,
com muitas luzes e flores,
contextura, que a tempo breve, acenderia
o sopro eterno da poesia.

No sonho, emergia pelas colunas de mormaço,
que envolvem à meus pares, nestes tempos quentes.
Quando tais ousadias, aos estratos alçaram-me,
por sobre a imensidão dos mares, por sobre todas as gentes,
olhei para o mapa da terra, de onde nunca se viu,
e fui bordejando à bubuia na autopista celeste,
cortejando em adejo o celeste azul, pela costa do Brasil.

É, poeta-musa, eu te seguia. Rudimentos mágicos da natureza,
eu a via combinar num instante em teus belos poemas.
Irmanada, pois, aos pássaros, no caminho sobre as ilhas,
num amavel voar constante, buscava o Alegre Porto,
indo às terras Farroupilhas.

Entoavas místicas cantigas, e tantas,
que eu diria que, doces quebrantos.

Juntos, iamos em galope jovial e presto.
Em parelha no céu,os eólicos ginetes:
O meu, sudoeste médio,junto ao seu,
minuano dos pampas.

Os ares, como a poesia, varejam a alma dos povos,
e os sonhos, tudo nos permitem,
estas quimeras gigantes.

E foi assim. Os ventos, campeando gautério a liberdade,
pela gauchesca praia, ou pelas aldeias Carijós,
que havia no entorno da Lagoa dos Patos.
Se pudessem o sonho e o poema vencer aos fatos,
ali, aqueles elementos, já teriam anunciado,
à quem escutar se dispusesse, a emergência de um tempo novo.